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O que é o estado de flow, segundo Mihaly Csikszentmihalyi

O estado de flow, ou de fluxo, é um termo que se refere àquelas situações em que ficamos tão entretidos em alguma atividade que esquecemos de todo o resto e perdemos a noção do tempo. Nossa atenção fica totalmente concentrada na atividade em questão. Geralmente essas experiências são desafiadoras e, ao mesmo tempo, recompensadoras em algum grau.

Em seu livro Flow: A psicologia do alto desempenho e da felicidade, o psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi revela resultados de décadas de estudos sobre o estado de flow. O autor defende que essa experiência tem profunda relação com o bem-estar e a felicidade.

Quer saber como? Então fique por aqui para conferir as principais lições do livro Flow. Você vai entender o que é o estado de flow, como induzir essa experiência nas suas atividades e como você pode se tornar uma pessoa mais feliz fazendo isso. Vamos lá?


Esse artigo é baseado no livro Flow: A psicologia do alto desempenho e da felicidade, de  Mihaly Csikszentmihalyi.

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O que é o estado de flow? 

O flow é um estado que ocorre quando a pessoa está tão imersa em uma atividade que nada mais parece importar, a ponto de perder a noção de espaço e de tempo durante a execução da tarefa. Essas experiências costumam ser desafiadoras e igualmente recompensadoras.

Aliás, a experiência por si só é tão agradável e interessante que a pessoa estaria disposta a realizar aquela atividade, ainda que não receba nada em troca além da experiência em si, e mesmo que fosse necessário enfrentar alguma barreira.

Elementos-chave do estado de flow

Diagrama mostrando os elementos do estado de flow, descritos no livro Flow, de Mihaly Csikszentmihalyi

O estado de flow é uma experiência que costuma apresentar características bem específicas. São elas:

  • Atenção: esse é o principal elemento do estado de flow. Durante a experiência, a atenção é plenamente direcionada à tarefa em questão, com o foco em atingir um determinado objetivo. A mente não se dispersa com distrações. 
  • Intenção: para entrar em estado de flow, é necessário direcionar o foco intencionalmente. Ou seja, você tem que escolher, de livre e espontânea vontade, desempenhar a tarefa.
  • Percepção alterada de tempo, espaço e autoconsciência: sabe quando você está tão absorto em uma atividade que esquece da vida e não sente o tempo passar? Essa é uma característica do flow.
  • Regras e objetivos claros: atividades que conduzem ao flow são estruturadas, com objetivos específicos e regras bem definidas. A maioria dos esportes, formas de arte ou de expressão criativa e atividades profissionais possuem essas características, por isso, podem conduzir ao flow. 
  • Feedback imediato: atividades que levam ao flow possuem feedback imediato: a cada ato, você sabe se errou ou acertou.
  • Desafios compatíveis com habilidades: atividades de flow requerem esforço ativo e habilidades específicas para realizar a tarefa. Contudo, é crucial que você se sinta capaz de executá-la.  Se o grau de dificuldade for superior à sua capacidade, você fica ansioso, e se for muito fácil, você fica entediado.  
  • Aumento da complexidade (aprimoramento da habilidade): é o que se segue após a experiência de flow. O indivíduo evolui e se torna mais complexo, mais habilidoso naquela tarefa. 

Praticamente qualquer atividade pode conduzir ao flow, depende de como a encaramos. Uma pessoa pode ser capaz de configurar uma tarefa em uma experiência de flow, desde que consiga estruturá-la nos moldes citados acima, estabelecendo metas e regras, encontrando desafios específicos e formas de feedback imediato. 

Como entrar no estado de flow? 

Já vimos que praticamente qualquer atividade pode ser transformada em uma experiência de flow, se direcionarmos nossa consciência para isso. Veja como:

  1. Defina um objetivo final para a atividade e, se possível, divida em várias sub-metas realistas e alcançáveis;
  2. encontre formas de mensurar o progresso em termos de avaliar o sucesso de cada uma das sub-metas;
  3. mantenha o foco na tarefa em questão, balanceando as oportunidades de ação com as suas habilidades;
  4. aprenda a curtir a experiência. Uma das maiores vantagens do processo é ser capaz de encontrar contentamento na execução da atividade em questão, independente das circunstâncias externas;
  5. determine quais são as competências necessárias para resolver os desafios de forma cada vez mais assertiva e busque desenvolver ativamente essas habilidades;
  6. vá elevando o nível dos desafios à medida que suas habilidades forem se desenvolvendo.

O flow pode ser obtido nos esportes e em alguns passatempos, mas também é possível transformar intencionalmente uma tarefa em atividade de flow, inclusive aquelas mais simples do dia a dia, como fazer uma faxina na casa, caminhar, correr, cantar. De qualquer forma, para isso, é crucial ter capacidade de concentrar a atenção.

O estado de flow traz ordem para o caos mental 

Imagem englobando 4 fotos em situações distintas: uma senhora tricotando, um time de basquete, um homem pintando uma tela e uma menina tocando piano, representando atividades que podem induzir ao estado de flow

Estar em estado de flow significa que a energia psíquica (isto é, a atenção) está direcionada a metas específicas, e que as habilidades do indivíduo correspondem aos desafios encontrados (elementos do estado de flow). 

Durante esses episódios, a consciência se encontra em ordem, porque toda a atenção está investida na atividade em questão, e não há espaço para pensamentos de ansiedade, medo, tristeza, etc. Por isso, atividades realizadas em estado de flow resultam nos momentos mais agradáveis e valiosos. 

Csikszentmihalyi chegou a essa conclusão ao constatar em seus estudos que as situações em que as pessoas relatam as melhores experiências, ocorrem quando elas levam seu corpo ou mente ao máximo de sua capacidade, de forma voluntária, a fim de alcançar algum resultado que consideram valer a pena

Qual é a relação do estado de flow com a felicidade?

Segundo Csikszentmihalyi, ter a capacidade de controlar a experiência interior, determinando a qualidade de sua própria existência, é o mais perto que se pode chegar da felicidade

Ou seja, a felicidade não é algo que acontece, nem tampouco resultado da sorte ou algo que possa ser comprado. Ela depende diretamente da capacidade do indivíduo exercer maestria sobre sua própria consciência.

Logo, para alcançar o estado ótimo de bem-estar, é necessário estabelecer um estado de ordem da própria consciência. Assim, a nossa qualidade de vida, no geral, está associada a nossa capacidade de entrar em estado de flow intencionalmente.  

Leia também: Top 10 lições do estoicismo para uma vida mais feliz

A entropia psíquica traz descontentamento 

Mulher preocupada olhando o celular em frente ao computador

Segundo o livro Flow, a entropia psíquica é a desorganização da consciência. Ela ocorre quando encontramos situações ou eventos indesejados, que contradizem nossos sonhos e desejos. Essa entropia, também chamada de desordem psíquica, pode assumir a forma de ansiedade, raiva, tristeza, ciúme ou medo, por exemplo.

Segundo Csikszentmihalyi, a entropia psíquica é o estado natural da mente. Quando a pessoa não é capaz de manter o controle de seus sentimentos e pensamentos, sua atenção será constantemente atraída para o caos, seja ele real ou imaginado. 

Por que é tão difícil encontrar a felicidade? 

Todas as formas de desordem psíquica forçam nossa atenção para direções indesejadas, e então, nos tiram a liberdade de direcionar a atenção para o que queremos, causando a desorganização da consciência. Essa desordem se dá de forma corriqueira por vários motivos. Alguns deles: 

  • Porque o universo não foi feito para satisfazer as nossas vontades. A frustração é inerente à vida.
  • Nosso desejo por mais é intrínseco à nossa condição humana. Quando nossas necessidades básicas são satisfeitas, logo encontramos outras necessidades que parecem igualmente urgentes ou outros objetivos que desejamos ardentemente alcançar (lembra da pirâmide de Maslow?).
  • Quando a ambição leva à ansiedade e fixação por obter o novo objeto de desejo, a pessoa não consegue apreciar o momento presente e acaba se frustrando.  
  • Buscamos felicidade nos lugares errados: coisas como a satisfação de necessidades biológicas (comida, sexo, conforto físico) bem como atividades passivas que distraem a mente (televisão, mídias sociais, álcool, drogas), não trazem felicidade genuína.
  • Tentar controlar circunstâncias externas também não traz felicidade, já que esta depende de nosso controle interno. Condicionar nosso bem-estar a eventos externos (conseguir o emprego, ganhar o campeonato, conquistar o amor de fulano ou a admiração de beltrano) é um caminho seguro para a frustração.

O prazer não traz felicidade

Homem com aparência triste e entediado enquanto olha para um hambúrguer com batatas fritas

O prazer é um componente importante da felicidade, mas por si só não é o suficiente para fazer a pessoa feliz. Isso porque as atividades que trazem prazer imediato ou a satisfação de necessidades fisiológicas trazem ordem à consciência temporariamente, mas não adicionam complexidade ao indivíduo.

Os eventos relatados pelas pessoas como sendo aqueles que fazem a vida valer a pena, em geral, não apresentam relação direta com o prazer, mas sim com eventos felizes, caracterizados por elementos de novidade e alguma conquista, seguidos do aumento de complexidade do indivíduo (alguma vitória conquistada após um período de dedicação). 

Como se libertar da entropia psíquica?

Mulher sorrindo no parque

Para superar as frustrações, é necessário desvincular o contentamento das recompensas externas. Ex: “só serei feliz quando tiver x reais, quando comprar aquela casa, quando tiver x seguidores, quando alcançar aquele cargo, quando conquistar o respeito dessas pessoas, etc.”. 

Afinal, quem está condicionado a recompensas externas se torna marionete da sociedade e não é livre para escolher para onde direcionar sua energia psíquica. 

Todavia, para atingir esse grau de autonomia sobre a própria felicidade é necessário aprender a estipular suas próprias recompensas e encontrar alegria independente dos eventos externos. A solução é definir suas próprias metas, estabelecendo recompensas que estejam sob seu poder atingir, em vez de depender das recompensas sociais (o salário, o prêmio, o número x de seguidores). 

Com isso, assumimos o poder sobre nosso contentamento, sem depender que algo bom aconteça para nos alegrar. Contudo, o controle sobre a própria consciência requer comprometimento e disciplina. É necessário encontrar formas de dar ordem à consciência, assumindo o controle dos próprios pensamentos e sentimentos

A atenção é a principal ferramenta para uma vida boa 

O autor defende que a atenção é a principal ferramenta para melhorar nossa qualidade de vida (aliás, esse também é um dos pilares defendidos no livro Hiperfoco!) Isso porque as memórias, pensamentos e sentimentos tomam a forma que damos para eles

Uma pessoa pode direcionar a atenção intencionalmente ou deixar que ela se disperse aleatoriamente. De qualquer forma, a nossa vida toma a forma daquilo para o que direcionamos a nossa atenção

Uma pessoa que tem controle sobre sua própria consciência possui a habilidade de direcionar sua atenção, sem sucumbir às distrações, mantendo o foco na direção escolhida pelo tempo necessário para atingir seus próprios objetivos.

Pessoas mais propensas a ter experiências de flow são mais felizes

Menina feliz sorrindo enquanto escreve em seu caderno.

Quem tem autonomia para definir as próprias metas, selecionar as habilidades necessárias a serem desenvolvidas, mantendo-se atento ao feedback, tem mais chances de ser feliz do que aquelas pessoas que dependem totalmente dos inputs externos. 

Afinal, quem consegue direcionar a atenção deliberadamente, deixa de ser vítima da entropia psíquica, sendo menos suscetível a emoções de ansiedade, medo, desespero, tristeza, etc. Além de terem mais qualidade de vida, essas pessoas conseguem enxergar a vida com maior serenidade e encontrar oportunidades que não seriam vistas sob a nuvem do medo e desespero.

Por outro lado, pessoas muito voltadas aos eventos externos, que dependem deles para serem felizes, não conseguem estabelecer ordem na própria consciência. Esses indivíduos costumam recorrer à ordem imposta por fatores externos. Com isso, se tornam mais suscetíveis à manipulação externa por ideologias políticas e religiosas, meios de comunicação e pessoas, muitas vezes, mal intencionadas.

Controle mental é a chave para a felicidade 

O livro Flow defende que propósito, objetivos e metas dão sentido à vida, e a ordem da consciência é o que traz contentamento e felicidade. Vale comentar que essa capacidade de escolher o próprio propósito, objetivos e metas está intimamente relacionada ao autoconhecimento. Afinal, eles devem ressoar com a individualidade da pessoa.

Como a felicidade é fruto da direção que damos à nossa atenção, pessoas que possuem maior autocontrole mental podem entrar em flow com mais facilidade e serem mais felizes

Pessoas com essa mentalidade, podem fazer da própria vida uma atividade de flow: definindo um propósito maior e dividindo-o em metas, que serão como degraus ao longo do caminho para a obtenção do objetivo superior. Cada ação tomada na vida será pensada em relação ao objetivo maior, sempre desenvolvendo as habilidades necessárias para alcançar o próximo nível. 

Enfim, nesse artigo você entendeu o que é o flow e como entrar nesse estado intencionalmente. Vimos também que a atenção é o principal elemento do flow, e saber dominá-la é a chave para a felicidade. Por fim, espero que esse artigo tenha contribuído para sua jornada em direção a uma vida mais feliz. Se sim, compartilhe com alguém especial 😉

Até a próxima! 

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