O livro A lógica do cisne negro, de Nassim Taleb fala sobre eventos altamente improváveis, mas de grande impacto, que moldam o mundo de maneiras inesperadas. O autor argumenta que subestimamos sua ocorrência devido à nossa tendência de buscar padrões e confiar cegamente em nossas impressões.
Nesse artigo você vai conhecer as principais ideias e conceitos do livro, além de minha opinião sobre ele.
Se você já conhece A lógica do cisne negro, de Taleb, esse resumo pode te ajudar a rever e organizar as ideias apresentadas na obra. E, se não conhece, espero que sirva como uma introdução aos conceitos e te deixe empolgado para ler o livro na íntegra! Vamos lá?
Esse artigo é baseado no livro A lógica do cisne negro, de Nassim Taleb.
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O que é o cisne negro, no livro de Nassim Taleb?
Segundo o livro de Nassim Taleb, os eventos denominados como cisnes negros são marcados por 3 características:
- Raridade: o cisne negro é uma exceção, algo literalmente fora da curva. Aliás, o autor fala bastante sobre o que é essa curva e por que ela é tão inútil na maioria das situações da vida real.
- Impacto extremo: uma única ocorrência desse tipo de evento pode mudar o rumo da história ou derrubar conceitos antes considerados como verdades inquestionáveis.
- Previsibilidade retrospectiva: depois que acontece, temos a tendência de encontrar explicações racionais para o cisne negro, a fim de torná-lo menos aleatório.
Assim, quase tudo de importante na vida pode ser atribuído a um número pequeno de cisnes negros, desde elementos históricos e descobertas científicas até o curso de nossa própria vida pessoal. Além disso, o efeito dos cisnes negros vem aumentando ao longo das décadas, tendo tido sua primeira aceleração com a Revolução Industrial.
Nossa mente é programada para não prever os cisnes negros
A principal razão para o alto impacto do cisne negro reside na sua imprevisibilidade. Esse atributo se deve ao que Taleb refere como nossa cegueira ao cisne negro. Aliás, essa limitação é natural: somos biologicamente programados para fugir da aleatoriedade, característica típica do cisne negro.
Isso porque nossa mente tem a necessidade de entender o que vê, algo que demanda resumir, categorizar e simplificar as informações. E, quanto mais aleatória é a informação, mais difícil é resumi-la. Assim, nossa natureza de simplificação nos leva a perceber o mundo bem menos aleatório do que realmente é. Veja a seguir algumas facetas da cegueira ao cisne negro.
O terceto da opacidade
Segundo Taleb, a mente humana costuma distorcer a história, arranjando interpretações para fatos que não seguem a lógica humana. Ele explica essa tendência por meio do terceto da opacidade, conceito que aparece bastante ao longo do livro. Os componentes da opacidade são:
- ilusão da compreensão: acreditamos que o mundo é compreensível, que os fatos seguem alguma lógica;
- distorção retrospectiva: conseguimos justificar os fatos apenas depois que ocorrem; buscamos (e encontramos) o porquê de coisas ocorridas sem nenhum motivo lógico, ou cujos motivos não podem ser explicados de forma simples;
- supervalorização da informação factual: tendência a superestimar tipos específicos de informação, enquanto ignoramos dados menos óbvios.
Problema da indução, ou do conhecimento indutivo
Temos a tendência a inferir a realidade com base no que observamos: se só vemos cisnes brancos, logo, todos os cisnes são brancos. Da mesma forma, projetamos o futuro com base no passado: se algo aconteceu milhares de vezes, logo, ocorrerá sempre. Contudo, ignoramos questões importantes, por exemplo:
- Como sabemos que o que observamos a partir de certos objetos e eventos é suficiente para ter a capacidade de descobrir suas outras propriedades?
- Como podemos descobrir propriedades do desconhecido (infinito) baseado no conhecido (finito)?
O problema da indução vem da nossa necessidade humana de entender o mundo e prever os acontecimentos. Contudo, nossa tendência a simplificar o complexo nos leva a conclusões equivocadas, nos tornando suscetíveis ao cisne negro.
Categorizações, classificações e preconceitos
O autor chama de platonismo nossa tendência a organizar as informações em categorias. Ex:
- religião (judeus são isso, cristãos são aquilo);
- localização geográfica (na Europa acontece isso, na América ocorre aquilo);
- castas sociais (pobre x classe média, cristão x muçulmano);
- estudo separado em disciplinas (física, química, biologia), etc.
Esse hábito de estratificar resulta da dificuldade que a mente humana tem de lidar com o abstrato.Trata-se de uma das nossas formas de organizar e simplificar informações, e mais um dos nossos pontos cegos ao cisne negro.
Superestimamos o que sabemos e fechamos os olhos a todo o resto
Tendemos a focar no que já sabemos, mas ignoramos que o que pode nos salvar é justamente o que não sabemos. Esse apego ao conhecimento já adquirido pode se apresentar de várias formas, por exemplo:
- Arrogância epistêmica: quando o aumento de conhecimento é acompanhado de um aumento desproporcional de autoconfiança, fazendo com que o indivíduo superestime o que sabe e subestime sua ignorância;
- Perseverança da crença: apego a opiniões já formadas e tendência a não revertê-las, mesmo quando confrontado com evidência de que a crença está errada;
- Falácia lúdica: calculamos riscos e probabilidades por métodos aprendidos em sala de aula, porém, os fatores de incerteza da vida real não seguem os mesmos padrões; os riscos reais são abstratos.
Evidências silenciosas passam por nós despercebidas
Em nosso esforço para encontrar sentido em coisas aleatórias, consideramos as informações que confirmam nossas hipóteses e deixamos passar os dados que poderiam refutá-la. Com isso, olhamos para apenas um lado da história, e ignoramos a evidência silenciosa.
Um exemplo clássico que ilustra esse erro é determinar fatores de sucesso ou sobrevivência. Procuramos pontos em comum apresentados por todos os sujeitos bem-sucedidos e atribuímos a vitória a esses pontos. Mas desconsideramos que os fracassados não expõem seus argumentos, especialmente se estiverem mortos.
Os atalhos da mente humana
Boa parte dos primeiros capítulos do livro se dedicam a explicar as limitações da mente humana em lidar com certos tipos de informação. Alguns dos erros e vieses cognitivos mais comuns são:
- Viés da confirmação: tendência de buscar apenas evidências e lembranças que corroboram nossa versão dos fatos, ignorando todas as informações que não se adequem a esse cenário;
- Falácia narrativa: buscamos ligar e encaixar fatos de forma a criar uma história. Temos a capacidade de criar sentido mesmo em fatos aleatórios e não relacionados;
- Pensamento linear: a mente humana processa bem com informações organizadas de forma linear (passado/presente/futuro, ordem crescente, ordem decrescente, causa e efeito), mas tem dificuldade em lidar eventos que não seguem esse padrão (quase todos, na vida real).
Para uma explicação mais detalhada sobre os atalhos da mente e outros exemplos, leia o artigo O que são vieses cognitivos? Descubra como seu cérebro está te enganando.
Tudo o que faz diferença está fora da curva: então, por que usamos a curva?

Além da nossa cegueira intrínseca, há um ponto que contribui para vendar nossos olhos ao cisne negro: é confiar na curva em forma de sino, a famosa curva de Gauss, também conhecida como distribuição normal, aplicada em praticamente todas as áreas que trabalham com dados e estatística.
Somos ensinados a nos concentrar apenas no centro da curva, onde fica a média, ou seja, o normal. Como os extremos têm pouca probabilidade de ocorrer, tendemos ignorar esses desvios.
Porém, quase tudo o que é relevante acontece fora da curva, ou seja, nos seus extremos. Em determinados cenários, a baixa probabilidade estatística de um evento não torna seguro desconsiderá-lo, pois basta uma única ocorrência para mudar todo o curso do jogo.
A curva em forma de sino pode levar a desastres
A distribuição normal, ou seja, a curva de Gauss é útil para explicar estatísticas apenas em cenários expostos à aleatoriedade moderada, do tipo 1. Porém, na maioria das situações da vida real ocorre a aleatoriedade intensa, ou aleatoriedade do tipo 2.
A principal característica observada em cenários de aleatoriedade do tipo 2 (Taleb chama esses cenários de Extremistão, conforme veremos em seguida) é que eles lidam com dados escaláveis. Esses cenários não seguem a distribuição normal. Logo, nesses casos, utilizar a curva em forma de sino para previsão e gestão de riscos pode levar a desastres.
Onde ocorrem os cisnes negros: Extremistão vs Mediocristão
Os nomes Extremistão e Mediocristão são províncias hipotéticas, uma figura de linguagem criada por Taleb para distinguir dois cenários em que as aleatoriedades seguem padrões distintos. Como vimos, a chave é a escalabilidade, que é típica do Extremistão e não ocorre no Mediocristão. Por isso, este último é, tecnicamente, imune ao cisne negro.
Mediocristão: país da curva em forma de sino
O Mediocristão é um ambiente simples e facilmente previsível, pois segue a distribuição normal, representada pela curva em forma de sino. Esse país está sujeito a aleatoriedade moderada, de forma que pode ser descrito pela sua lei suprema que diz:
“Quando a amostra é grande, nenhum exemplar isolado alterará de modo significativo o agregado ou o total”
Os exemplos mais clássicos do Mediocristão estão em características físicas e biológicas. Ex:
- Consumo calórico diário de um indivíduo ao longo de um ano: Esses dados se enquadram na distribuição normal, pois há uma média que não sofre grandes alterações. Há os pontos fora da curva: Natal, réveillon, Páscoa e outras ocasiões especiais em que se consome uma quantidade exorbitante de calorias. Mas, ainda assim, essas exceções, representadas nos extremos, fora da curva, não deformam o formato da curva.
- Estatura de uma população adulta aleatória: seja qual for a população, é possível encontrar uma média de estatura que represente bem a amostra. Os indivíduos muito altos e os muito baixos, que são a minoria, são representados nos extremos da curva. Contudo, seja qual for a estatura de um sujeito fora da curva, ela não altera significativamente a média. Afinal, é impossível alguém ter quilômetros de altura.
- Outros exemplos de questões do Mediocristão: peso corporal, taxas de QI, taxas de mortalidade.
Extremistão: o país onde nascem cisnes negros
O Extremistão não obedece aos padrões da distribuição normal, pois está sujeito a aleatoriedade intensa, também chamada aleatoriedade do tipo 2. Com isso, pode gerar tanta desigualdade que uma única observação pode exercer um impacto desproporcional sobre o total. Os exemplos mais clássicos do Extremistão ocorrem em questões sociais. Ex:
- Renda de uma população aleatória quando incluímos Bill Gates: o patrimônio desse único indivíduo destoa tanto dos demais que seria impossível encontrar uma média representativa da população.
- Venda de livros de escritores contemporâneos, quando incluímos J.K. Rowling na amostra: ela sozinha vende mais livros que milhares de escritores juntos. Sua inclusão na amostra impossibilitaria uma análise realista desses dados.
- Outros exemplos de questões do Extremistão: mortes na guerra, tamanho dos planetas, número de falantes por língua, mercados financeiros, preços de commodities (essa lista é muito maior que a do Mediocristão).
Como lidar com cisnes negros
Já sabemos que não podemos confiar plenamente nas nossas impressões, memórias, conhecimento, capacidade de prever o futuro e muito menos na curva em forma de sino. Mas isso não é o fim do mundo. Taleb sugere formas de conviver com os cisnes negros:
Empirismo negativo
Nassim Taleb chama de empirismo ingênuo nossa tendência de procurar por instâncias que confirmam nossa visão do mundo. Como vimos, essa perspectiva não leva à verdade e pode conduzir a conclusões errôneas. Afinal, é possível encontrar confirmação para praticamente qualquer coisa.
Além disso, uma série de fatos corroborativos não é, necessariamente, evidência. Então, para evitar essa limitação, o autor propõe o empirismo negativo, uma abordagem que consiste em procurar ativamente por evidências de que sua hipótese esteja errada.
Busque conhecimento, mas aceite sua ignorância
O autor defende a erudição, descrevendo-a como curiosidade intelectual, acompanhada de mente aberta e desejo de investigar as ideias de outras pessoas, cultivando uma insatisfação com o próprio conhecimento.
Segundo ele, a erudição é um escudo contra o platonismo e a simplificação, e ainda argumenta que o academicismo sem erudição pode resultar em desastres. Devemos estar receptivos a novas informações e teses diferentes das nossas.
Filtrar o conhecimento também é importante. Em muitos casos, adquirir informações mais precisas e em maior quantidade pode ser prejudicial, trazendo mais confusão e aumentando o erro.
Aceite que não pode prever
A incapacidade de compreender o incompreensível e de prever o futuro são grandes perigos quando não temos consciência dessas limitações, e acreditamos piamente em nossas hipóteses. Já entendemos isso, mas, dada a nossa cegueira ao cisne negro, como proceder?
Taleb defende que não é necessário (aliás, nem possível) compreender as probabilidades de um evento raro. Em vistas disso, ele sugere que tomemos decisões com base nas consequências (possível de saber) e não na probabilidade (impossível de saber); invista em preparação e não em predição.
Além disso, saber que não tem como prever o futuro e as probabilidades, não significa que não seja possível se beneficiar com a imprevisibilidade. Aliás, a própria estratégia de investimentos de Taleb (muito bem sucedida, por sinal) se baseia nessa premissa.
Seja tolo nos lugares certos
Já que os julgamentos e a platonização são características intrínsecas humanas, não temos como nos livrar totalmente dessas limitações. Mas, com conhecimento delas, podemos minimizar alguns de seus efeitos. Taleb aconselha a categorizar crenças não de acordo com a plausabilidade delas, mas sim pelo dano que podem causar.
Nem todos os cisnes negros são ruins
Alguns cisnes negros são positivos. A essa categoria o autor denomina cisnes negros serendipitosos, e atribui a ela os mais importantes avanços científicos e tecnológicos, já que foram descobertos por acidente. Ex: penicilina, o laser, a teoria da Evolução e até mesmo o Viagra, entre outros exemplos.
Em vistas disso, Taleb aconselha a nos expormos aos cisnes negros serendipitosos o máximo possível. Isso pode significar ir a eventos, pesquisar e estudar coisas novas, persistir em tentativas após fracassar, falar com pessoas e aproveitar oportunidades inesperadas mesmo que, aparentemente, não ofereçam nenhuma vantagem previsível.
Comentários sobre o livro A lógica do cisne negro, de Nassim Taleb
Esse singelo resumo do livro A lógica do cisne negro está longe de captar toda a genialidade da obra. Além disso, muitos conceitos importantes ficaram de fora.
Embora seja um título muito recomendado no nicho de investimentos, suas lições são úteis para qualquer pessoa, em qualquer contexto, já que somos todos desavisados moradores do Extremistão. Contudo, devo avisar que não é um livro fácil de ler e nem todo mundo irá entender ou apreciar.
Ainda assim, embora seja um conteúdo denso, a leitura é super agradável. Não obstante a complexidade dos conceitos, eles são explicados de forma simples, com diversos exemplos e figuras de linguagem, muitas vezes hilárias.
Aliás, essa é uma das características mais marcantes do livro: a narrativa divertida e sarcástica de Taleb. Há quem critique esse humor ácido, dizendo que o autor é arrogante. Contudo, eu me diverti bastante com esse estilo de escrita e cheguei a rir alto em vários trechos. Por todos esses motivos, recomendo fortemente a leitura do livro A lógica do cisne negro.
Enfim, quer você tenha lido ou não, espero que esse resumo tenha sido útil. Se sim, compartilhe nas suas redes!
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